Sobre a juventude
Fonte: Eric Silvade Andrade – Projeto Viração – www.viracao.org.br
Na Assembléia Mundial da Juventude Urbana, realizada nos últimos dias 19 e 20, o jovem Renato Gardel, de 18 anos, que participa da Plataforma do Centros Urbanos no Rio deJaneiro, falou no Fórum para jovens e adultos de várias partes do mundo. O evento fez parte da programação do 5º Fórum Urbano Mundial que está acontecendo no RJ.
Bom Dia!
Eu habito a Cidade de Deus.
Eu habito a Cidade do Rio de Janeiro.
Em mim habita uma juventude.
Eu tenho uma história.
Eu vim da Bahia.
Fui adotado, e vim para o Rio.
No meu pai, habitou a violência,
E as cidades se habituaram ao ilícito, ao perigo e ao errado.
E se habituaram também a subestimar o potencial dos seus jovens.
Isso me incomoda.
Escuto: O Jovem é instável
Tá certo, é verdade e eu pergunto: e a economia no mundo? E os casamentos? E a política?
Escuto: O Jovem transgride
Picasso transgrediu as normas da pintura.
Einstein transgrediu os limites da física de Newton.
Escuto: O Jovem não tem os pés no chão
E eu pergunto: o chão é tão confiável assim? As terras tremem por todos os lados,
Debaixo dos pés de nossos irmãos e irmãs no Haiti… no Chile…
Escuto: O Jovem não para quieto
Sim, nós somos inquietos. E com tudo que se passa no mundo, é o caso deficar parado? Gostaríamos que nossos dirigentes ficassem mais inquietos.
Escuto: O Jovem muda de humor o tempo todo
E eu digo que sim, nós nos emocionamos com facilidade. E quantos chamados “adultos responsáveis” perderam a capacidade de se emocionar?
E essa questão eu quero destacar. Esse talvez seja um dos elementosmais IMPORTANTES que parecem ficar esquecidos e desprezados no mundo adulto.
As emoções não são privilégio de nenhuma classe social:
Qual é o jovem, seja ele de que região do mundo for, seja ele de que classe social, de que estrato cultural, não carrega cotidianamente poesia, músicas, que falam de sentimentos de sua alma?
Qual é o jovem no mundo que não sentiu tristeza?
Qual o jovem do mundo, da favela, da cidade, do condomínio de luxo que não sentiu medo?
Que não se apaixonou? Que não sentiu raiva?
Que não se sentiu perdido? Angustiado, alegre?
Alguns adultos deixam para trás esses elementos que fazem com que agente se sinta humano, vivo. Pois se cobriram de mágoas, de desconfianças e decepções. E a falta desses sentimentos muitas vezes os fazem esquecer de nossas igualdades.
Somos todos feitos da mesma matéria dos sonhos!!!
Creio que uma das nossas funções como jovens no mundo é manter viva a lembrança disso, que nos une para além das classes sociais, além das religiões, além das fronteiras. As emoções, os sentimentos, que por sua vez podem nos lembrar de nossas igualdades.
É talvez essa a qualidade dos jovens que pode criar as pontes entre nós jovens e lembrar aos adultos esquecidos e pragmáticos de que somos todos pessoas.
Nós jovens temos um olhar que não está limitado pelo estabelecido.
Temos uma capacidade de ver, arriscar e ir além das idéias já pensadas.
Somos a paixão, o desejo, o tesão e a esperança.
Nós, em qualquer lugar do mundo, somos a lembrança dos desejos de mudanças.
E por isso devemos nos orgulhar e assumir a responsabilidade de ser o que somos e inspirar aqueles que se tornaram amargos e desesperançados.
Assim eu proponho outra visão de nós jovens. Assim como as crianças,mulheres e idosos não são apenas um grupo populacional.
Olhando com atenção:
Se crianças são uma representação de aspectos humanos como a espontaneidade e inocência,
As mulheres, manifestações do cuidado, do acolhimento e da sensibilidade,
Os idosos, expressão de sabedoria e experiência…
Da mesma forma, nós jovens, de qualquer lugar do mundo, não somos apenas uma faixa etária, nós somos a ponte, a sinalização, oconvite, o desejo e a possibilidade de transformações que habita a alma de todos nós.
Muito obrigado!