A educação e o segundo turno
A educação e o segundo turno
ANTONIO MATIAS
Os dois candidatos têm se empenhado em reafirmar a importância do investimento em educação, mas o tema não teve tratamento adequado |
Antes do início da campanha eleitoral, pesquisas apontavam a educação como uma das principais preocupações da sociedade.
No embalo do crescimento econômico e em meio aos desafios de gerar mão de obra qualificada para o Brasil continuar avançando, o tema figurava como fundamental para balizar a decisão do eleitorado. O eleitor tem o direito e o dever de ir às urnas sabendo com exatidão os planos dos candidatos para a melhoria do ensino.
Há uma evidente qualidade dos educadores que participam da formulação dos planos de governo dos postulantes ao Planalto, e os candidatos têm se empenhado em reafirmar a importância do investimento em educação, mas o assunto não recebeu o tratamento adequado durante a campanha.
Desde o primeiro turno, assistimos ao esboço da ideia -boa, diga-se de passagem- de fortalecer a rede de ensino técnico. A promessa de abrir vagas para os filhos da classe média ascendente para dar-lhes uma formação é, de fato, oportuna. Temos que preparar novos contingentes de técnicos e dar capacitação profissional para os jovens. Isso ninguém contesta.
O problema é que a ferida da educação vai além dos desafios do ensino profissionalizante. Há questões fundamentais a resolver.
O Brasil não conta com educação de qualidade na base; este é o desafio que o novo presidente terá que enfrentar se quisermos equacionar o desequilíbrio estrutural nas próximas décadas.
Nossas fragilidades são muitas. Só para exemplificar, metade dos jovens de 15 a 17 anos está no ensino médio, nível adequado para tal faixa etária. Outros 15% dessa faixa ficaram fora da escola em 2009. O percentual de estudantes com conhecimento adequado a sua respectiva série é de baixíssimos 11%.
Como faremos o treinamento profissional desses estudantes se lhes faltam conhecimentos básicos? O dilema da educação é crucial e deve abranger todas as fases do aprendizado. É certo que melhoramos em alguns indicadores, como na universalização do ensino. É certo, também, que estamos melhorando no ensino básico, embora não no ritmo desejável.
Mas há lacunas enormes a serem tratadas. Faltam escolas e precisamos melhorar a capacitação e motivar os professores. Faltam investimentos, uma política de remuneração adequada e o compromisso com indicadores de melhoria.
Falta, enfim, uma política definitiva para sanar a dívida social nos bancos escolares do ensino fundamental e do ensino médio.
Tradicionalmente, a educação, assim como a saúde, entra nos discursos dos políticos em época de campanha com a mesma facilidade com que sai das prioridades de governo no dia da posse.
Mas, ao contrário de pleitos anteriores, não podemos deixar que essa máxima brasileira encontre espaço para reincidência, sob pena de perdermos a oportunidade de ver o Brasil crescer de forma sustentável nos próximos anos.
O presidente que emergir das urnas neste domingo terá que dar respostas efetivas aos dilemas da educação. Esta deverá ser uma preocupação permanente daquele que vier a ocupar o posto mais importante do país a partir de 2011. E, neste caso, não haverá espaço para tergiversação.
ANTONIO MATIAS é vice-presidente da Fundação Itaú Social e membro do conselho de governança do movimento Todos pela Educação e do conselho de orientação estratégica do Ceats – Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da USP.